i

Meridional. Revista Chilena de Estudios Latinoamericanos tem o prazer de convidá-lo a participar do dossiê "Vigência do marxismo latino-americano: pensando com, a partir e além da obra de Michael Löwy" correspondente ao número 21, que será publicado em outubro de 2023.

Chamada de Artigos Meridional 24: "América Central no Caribe/Caribe na América Central"

2024-01-29

Meridional. Revista Chilena de Estudios Latinoamericanos tem o prazer de fazer o convite para participar no dossiê "América Central no Caribe/Caribe na América Central" para o número 24, a ser publicado em abril de 2025.

Há 40 anos, o sociólogo argentino Carlos Vilas foi convidado a fazer parte do Centro de Investigaciones y Documentación de la Costa Atlántica (CIDCA) da Nicarágua, em plena revolução sandinista e durante o início do conflito armado que logo envolveria toda a América Central, bem como a América Latina e o mundo, no final da Guerra Fria. Vilas explica com franqueza que “ignorava quase tudo sobre a Costa Atântica”, ao ponto de não a incluir em sua obra seminal Perfiles de la Revolución Sandinista (3). No entanto, Vilas logo descobriu que o Caribe – desconhecido para ele – era produto de intensas trocas políticas, econômicas, sociais e culturais de longa duração. O Caribe centro-americano, longe de ser uma região ignorada, estava no centro das articulações geopolíticas desta região com o resto do mundo.

Ao longo do século XX, vários estudos situaram o Caribe como um lugar central para compreender o Nascimento do Mundo Moderno (Bayly 2004), onde o Atlântico Negro (Gilroy 2001) foi o espaço onde germinaram as relações políticas e econômicas que configuraram o ordenamento do mundo capitalista a partir das grandes empresas de extração e do tráfico transatlântico de escravos (Williams 1994). Estudiosos do Caribe afirmaram que seria na verdade impossível compreender a Era das Revoluções (Hobsbawm 2012) sem os movimentos e pensamentos independentistas das primeiras revoluções americanas ocorridas em Saint-Domingue, atual Haiti (James 1989). Não obstante, como como demonstraram alguns centro-americanistas (Mackenbach 2008), a costa centro-americana do Caribe – a qual, por razões históricas, culturais e políticas faz parte do Grande Caribe – foi amplamente ignorada dentro dos estudos do Caribe. De fato, o Caribe centro-americano foi duplamente excluído: por um lado, internamente, foi marginalizado da América Central de raiz hispânica. Por outro lado, externamente ficou excluído do Caribe entendido como região fundamentalmente insular (Benítez Rojo 1998).

Em outras palavras, o Caribe não é uma “região desconhecida” a ser “descoberta”. O que o sociólogo argentino percebeu naquela década de furor revolucionário foi, antes, o preconceito internamente estruturado pela cultura do Pacífico nicaraguense, que manteve os saberes e práticas do Caribe desconectados da vida política, econômica e intelectual de Manágua. Por isso, de acordo com Amanda Minks, historicizar, conceitualizar e refletir sobre a América Central e o Caribe implica a tarefa de desentranhar a “metanarrativa” sobre o Istmo, o qual “se fragmenta em tantas micronarrativas e, ainda assim, segue recordando os impactos do imperialismo espanhol, frequentemente eclipsados pelas metanarrativas do imperialismo anglo-saxão” (20).

Por outro lado, esse preconceito não é exclusivo da Nicarágua, mas se reproduziu com certas semelhanças e particularidades ao longo do istmo centro-americano, fazendo da articulação ou fragmentação entre as regiões do Pacífico, Central e Caribe uma das principais características da região. Dessa forma, este dossiê propõe revisitar as relações sociais e culturais da América Central no Caribe e do Caribe na América Central, a fim de reunir contribuições das ciências sociais e humanas para aprofundar esta relação no âmbito das articulações, fragmentações ou preconceitos que estruturaram as relações locais, regionais, ístmicas e globais das sociedades centro-americanas. Ao mesmo tempo, propõe repensar os limites – geográficos, históricos, culturais e teóricos – do próprio Caribe à luz de sua costa centro-americana, que faz fronteira com a costa colombiana ao sul e com a costa mexicana ao norte.

Embora existam hoje grandes avanços sobre o estudo das relações, tensões e desencontros entre as regiões Pacífico e Caribe do istmo (Putnam 2013), ainda é pertinente fazer um chamado ao aprofundamento da pesquisa interconectada entre essas regiões, uma vez que persiste a necessidade de estudar a América Central através de enfoques que ultrapassem as fronteiras nacionais e que abordem as temáticas pertinentes ao Istmo a partir de uma perspectiva transnacional, transístmica ou global. Assim, neste dossiê partimos da premissa de que, devido à sua complexidade, a questão do Caribe na América Central e da América Central no Caribe é mais bem compreendida quando abordada por múltiplas disciplinas (a história, a antropologia, os estudos literários, visuais, musicais, culturais, entre outras). Portanto, usando como ponto de partida a marginalização histórica do caribenho dentro da América Central – seja da costa do Pacífico nicaraguense, o Vale Central costa-riquenho ou o planalto guatemalteco –, estas são algumas das temáticas principais às quais se abre a presente chamada de artigos:

  • Epistemologias e discursos sobre ou a partir da América Central e do Caribe que vislumbrem tanto as relações ou articulações, assim como os preconceitos ou rupturas entre estas regiões.
  • Estudos sobre redes intelectuais, políticas e afetivas, internas ou externas, seja dentro do Caribe centro-americano, seja entre este e outras regiões.
  • Reflexões sobre os limites geográficos, históricos, culturais e teóricos do próprio Caribe, particularmente no que concerne ao chamado Caribe continental.
  • Histórias culturais, econômicas ou políticas que revelem as interações ou as influências compartilhadas entre o Pacífico e o Caribe, e destas regiões com o resto do mundo.
  • Apresentação e análise de discursos sobre a América Central produzidos no Caribe e vice-versa.
  • Histórias transnacionais ou globais que incluam as relações transístmicas próprias do Istmo.
  • Reflexões sobre os olhares do Caribe sobre a América Central na produção em espanhol da região e suas relações históricas.
  • Análise e reflexão sobre arquivos, artefatos culturais, literaturas, música ou performances à luz de suas conexões transnacionais e transístmicas.
  • Histórias e contra-histórias, assim como memórias e contramemórias, próprias das histórias culturais a partir da ou sobre a América Central e o Caribe.
  • Contribuições à teoria das ciências sociais e das humanidades a partir da América Central e do Caribe.
  • Histórias, reflexões e testemunhos sobre a identidade e a (re)invenção da cultura centro-americana e do Caribe em todas as suas manifestações.
  • Histórias ou análises de casos sobre as conexões transnacionais e globais como estruturas para compreender a complexidade das articulações políticas, econômicas, sociais e culturais que tecem a demarcação entre América Central e Caribe.
  • Estudos sobre a globalização vista ou compreendida a partir da América Central e do Caribe.

A Meridional está presenta nos seguintes índices e bases de dados: ERIH-Plus, Latindex Catálogo, DOAJ, Dialnet, Gale-Cengage, Prisma.

O prazo final para a recepção de manuscritos é 30 de setembro de 2024.

Consultas e contato: revistameridional@gmail.com.

Coordenadores do dossiê:

Dr. Carlos F. Grigsby. Universidade de Bristol, Reino Unido

Dr. Antonio M. Casablanca. Universidade Nacional da Costa Rica